O papel dos pais na aprendizagem I
Os pais, sejam ou não músicos, desempenham um papel importante na aprendizagem de competências musicais por parte dos filhos. A questão da aprendizagem de competências e de desenvolvimento de aptidões começa muito cedo, visto que é amplamente conhecido que as crianças conseguem ouvir música e palavras nas últimas semanas de 'estadia' no ambiente intra-uterino e que conseguem reconhecer esses sons depois de nascerem. O interesse que as crianças terão no som, na música e nos seus componentes variará consoante o grau de interação musical e quase-musical que os pais desenvolvem com os seus filhos. O tipo de interação musical mais eficaz acontece quando os pais cantam para o bebê, muito embora fazer ouvir música gravada ou ao vivo possam também seja positivo. O tipo de interação quase-musical envolve a comunicação (vocal mas não-verbal) que os pais usam quando embalam, alimentam, brincam com as crianças. Diz-se quase-musical porque envolve parâmetros musicais: variação de altura sonora, timbre, melodia, ritmo, tempo e dinâmica. A interação quase-musical termina quando o centro de atenção passa a ser a aquisição de linguagem. No fundo, os pais que promovem este tipo de interações educam-nas musicalmente (mesmo que de uma forma elementar), proporcionando às crianças uma compreensão sensorial dos fenômenos sonoros e musicais.
O papel dos pais na aprendizagem II
No ensino especializado da música, onde o tipo de competências a desenvolver são complexas e envolvem muitas horas de estudo e persistência, o papel dos pais é vital para o sucesso da aprendizagem, independentemente de saberem ou não música. Alguns dos aspectos que, tidos em conta pelos pais, influenciam positivamente o desempenho das crianças são:
1. Atenção dos pais centrada na criança, com particular ênfase no ensino da música. 2. Organização das atividades dos pais centrada nos interesses, nas atividades e no tempo da criança.
4. O ênfase dos pais está centrado no prazer de tocar/fazer música, e não numa carreira musical.
5. Há lugar a elogios, mesmo quando há apenas pequenos sucessos.
6. Cuidadosa seleção dos professores e monitorização do trabalho feito em casa.
7. Investimento de uma considerável quantidade de tempo e esforço nas atividades musicais.
O valor da repetição
A aprendizagem de música depende essencialmente da aquisição de competências psico-motoras. Se na aprendizagem de uma disciplina do ensino regular (Biologia, Português, Física...) a aprendizagem de um conceito depende, na maioria dos casos, de uma exposição ou explicação dos fenómenos ou dos elementos associados a esse conceito, no caso do ensino da música (quer no ensino especializado, quer no não-especializado) a aprendizagem de conceitos e competências depende quase exclusivamente da qualidade e do número de repetições.
Número de repetições - Aplicando o PST (Production System Theory) à aprendizagem na música, percebemos que um comportamento ou uma competência só é adquirida, adicionada e incorporada, se o Sistema Cognitivo que controla a aquisição de comportamentos ou competências encarar esse comportamento ou competência como útil. Para o Sistema Cognitivo, o que determina a utilidade do comportamento ou da competência é o número de vezes que é repetido com sucesso. As competências a que nos referimos dizem respeito, quer às que os professores de instrumento desenvolvem como às que os professores de Formação Musical querem fazer desenvolver.
Qualidade das repetições - Recorrendo à mesma teoria, a aprendizagem de uma competência só se efectiva se todas as sub-competências que dela dependem já tiverem sido repetidas ao ponto de terem sido incorporadas com sucesso. [Pensando num caso prático, imagine que um aluno quer conseguir tocar uma escala, digamos de Dó Maior. Para que esta competência (hierárquicamente superior) possa ser adquirida com sucesso, é necessário que as competências dispostas nos níveis inferiores da hierarquia de complexidade tenham sido adquiridas/aprendidas com sucesso. Neste caso podemos imaginar o nível mais baixo da hierarquia deste exemplo contendo como competências iniciais ser capaz de associar a tecla/corda/posição a cada uma das notas que constituem a escala de Dó Maior.] Portanto, para haver sucesso na aquisição de uma competência tem de haver uma sucessiva repetição/integração das suas mais directas sub-competências.
Quando é que se conclui que o número de repetições é suficiente? Quando nos tornamos capazes de desempenhar a competência de uma forma reflexiva, sem efectuar qualquer tipo de esforço mental. No caso do Instrumento quando somos capazes de tocar uma peça, uma escala, um acorde ou uma nota sem qualquer tipo de esforço mental. No caso da Formação Musical quando somos capazes de entoar um intervalo, ler uma melodia ou percutir um ritmo sem fazer qualquer esforço mental. Portanto, o que quer que tentemos aprender em música, só seremos bem-sucedidos dependendo da quantidade de tempo e esforço que gastamos em repetir.
Ensino da Música para Crianças - Princípios Pedagógicos I
Todas as crianças têm potencial para aprender música. Algumas precisam mais tempo que outras para aprender, precisam que o professor repita experiências significativas um maior número de vezes, mas todas as crianças têm potencial para adquirir competências musicais. Só é possível ensinar música se as atividades realizadas forem eminentemente musicais. A aquisição de competências musicais não depende de explicações verbais, imagens visuais, esquemas, metáforas, analogias ou desenhos. A verdadeira compreensão dos fenômenos sonoros só é possível quando se orienta o atenção da criança para o som, para as suas propriedades e para a forma como evoluem no tempo os seus elementos. Assim sendo, só a vivência de experiências musicais marcantes que se aproximam da 'música real' pode levar as crianças a aprender o que é música. Partir do que as crianças conhecem para aprender coisas novas não se pode assumir que é na primeira aula de música (formal) que as crianças vão começar a aprender música. As crianças já tiveram muitas experiências 'musicais' antes de ver o primeiro professor de música: já dançaram com música, aprenderam canções, cantaram interiormente, marcaram um ritmo em simultâneo com uma música... Por esta razão, o professor ao ter consciência da existência de um historial de experiências musicais, deve partir do que a criança já consegue fazer para fazer desenvolver novas competências. Ao fazer isto, o professor facilitará a integração de novas competências e novas aprendizagens.
Ensino da Música para Crianças - Princípios Pedagógicos II
Organizar as atividades em função de objetivos comportamentais e não o contrário
A tendência de professores inexperientes ao planificarem as suas aulas é pensar prioritariamente em descobrir atividades engraçadas e cativantes, mais do que nas vantagens pedagógicas ou no valor pedagógico dessas atividades. Um ensino de qualidade não ignora a importância da escolha de atividades interessantes para as crianças, mas apenas pensa nas atividades depois do objetivo comportamental estar definido. As atividades mais do que divertirem as crianças, deverão levar as crianças a ser capazes de fazer algo de novo.
Se todas as atividades forem pensadas como 'Jogo' as crianças vão sentir-se mais motivadas para participar e aprender
Fazer isto significa mais do que apenas fazer Jogos na aula. Este princípio pedagógico tem implicações, sobretudo para a forma como o professor aborda cada atividade. Se as crianças sentirem que em cada atividade os pressupostos envolvidos são os mesmos que estão na base dos jogos que elas realizam entre elas, vão sentir-se motivadas e empenhadas no processo de aprendizagem. Estes pressupostos são:
* 1. Redução da carga negativa atribuída ao erro,
* 2. Possibilidade de fazer várias tentativas para acertar/fazer bem,
* 3. O objetivo a atingir é muito claro,
* 4. Todas as crianças se vêem como estando ao mesmo nível, não havendo diferenças de potencial entre elas.
A tarefa do bom professor é fazer realçar todos estes pressupostos em cada atividade realizada na aula.
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